O turismo como uma nova fronteira econômica para o Brasil.
Por Abdon C. Marinho.
HÁ APROXIMADAMENTE um ano escrevi o texto intitulado “Turismo: a aposta certeira de Brandão”. Falava, na oportunidade, na importância que o governo estava dando a um segmento importante para a economia mundial e que tem um potencial de crescimento extraordinário no nosso país.
O governo estadual estava trabalhando as chamadas rotas turísticas do estado: rota dos lençóis; floresta dos guarás; chapada das mesas, etc.
Enxergava na iniciativa uma possibilidade do estado buscar mais uma janela de desenvolvimento e uma forma de retirar o nosso povo da miséria que vem se perpetuando por séculos.
Por esses dias o Maranhão obteve mais uma conquista. Em Delhi, Índia, a Unesco - Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura, informou da concessão do título de Patrimônio Natural da Humanidade aos nossos Lençóis Maranhenses.
Com esse já são três os títulos dispensados ao Maranhão, o primeiro foi a São Luís, reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade; depois o reconhecimento do nosso Bumba-Boi, e outras expressões culturais como Patrimônio Imaterial da Humanidade e agora o título concedido aos Lençóis.
Vejam que além desses títulos o nosso estado possui inúmeras outras belezas naturais e outros atrativos, basta citar as cidades da região metropolitana com seu patrimônio histórico, cultural e natural; a cidade Alcântara; o circuito da Floresta dos Guarás e toda a beleza das reentrâncias maranhenses, que, certamente, algum dia será também reconhecida como patrimônio natural mundial; a região da Chapada das Mesas; e, como disse, tantos outros.
Na esteira do que já intuía lá atrás, o turismo é um segmento em expansão no Brasil. Segundo o Banco Central, em dados divulgados recentemente, os turistas estrangeiros já deixaram de receita no Brasil até o mês de julho deste ano, cerca de 21 bilhões de reais, muito superior a todo o ano de 2023, quando deixaram 18 bilhões de reais e até mesmo superior a todo o ano de 2014, ano da Copa do Mundo da FIFA ocorrida no Brasil, quando os turistas estrangeiros deixaram de receita 20,2 bilhões.
Esse volume de receita ainda para um número de turistas estrangeiros, a nosso sentir, insignificante, até agora ainda não ultrapassamos sete milhões de turistas estrangeiros/ano. Ou seja, ainda não alcançamos dez por cento do volume de turistas que recebem a França ou a Espanha.
Segundo publicação especializada, os países acima referidos, daqui a 15 anos estarão recebendo um número de turistas estrangeiros superior a 105 e 110 milhões, respectivamente, com a Espanha, como podemos ver, superando a França.
E o Brasil? Pois é, até agora ainda não alcançamos 10 milhões de estrangeiros/ano.
É dizer, repito, o Brasil, principalmente o nordeste e o Maranhão junto, tem a possibilidade, se souber fazer o “dever de casa” de impulsionar esses números atraindo para o Brasil nos próximos anos pelo menos 30, 40, 50 milhões de turistas estrangeiros/ano.
Ora, se com menos de 7 milhões de turistas obtivemos uma receita de 21 bilhões de reais, já podemos imaginar o quanto podemos colocar de recursos financeiros nos nossos estados e municípios.
Já pensaram se fosse o nosso país na confortável situação de França ou Espanha ou mesmo a Turquia ou os Estados Unidos que anualmente recebem um número superior a 50 milhões de turistas?
O Brasil tem potencial para isso. O que falta é enxergarmos essa fronteira econômica e transformar esse potencial em desenvolvimento econômico para nossas unidades federadas.
Conforme já expus diversas vezes, além de prepararmos nossas rotas turísticas com um mínimo de infraestrutura, faz-se necessário preparar as comunidades (e não apenas as pessoas diretamente ligadas ao turismo) para receber e bem acolher esses turistas.
Assim como as riquezas decorrentes desse setor da economia precisam ser partilhadas por todos os cidadãos, do mesmo modo, a riqueza cultural das interações precisam ser compartilhadas por essas cidades e estados. Para isso é necessário que o Brasil, o nordeste e o Maranhão passem a investir na formação linguística da sua população retirando-nos da incomum condição de povo monoglota.
Como já dito anteriormente essa formação deve ocorrer de forma massiva, tanto nas redes regulares de ensino mas, também, para as pessoas que já estejam presentes no mercado de trabalho ou para aqueles que não trabalham nem estudam.
A educação, nunca é demais reafirmar, é a chave para o desenvolvimento de qualquer nação.
Para as localidades de interesse turístico faz-se necessário habilitarmos as populações em pelo menos dois idiomas estrangeiros: o inglês e o espanhol. Se o primeiro tem o condão de ser compreendido como linguagem global, o segundo é essencial para promover a integração latino-americana, um dos objetivos da República Federativa do Brasil previsto na Constituição.
Os governos estaduais e municipais precisam colocar entre as prioridades para o desenvolvimento de seus estados e municípios essa fronteira econômica e adotar as medidas necessárias para que não seja mais uma oportunidade perdida.
O recurso do turismo é uma receita nova, limpa e, ainda, não comprometida com os dispêndios regulares.
É dizer, são recursos que podem, efetivamente, alavancar o desenvolvimento do Brasil, principalmente, das regiões norte e nordeste.
Os próximos anos serão decisivos para colocarmos essas estratégias de desenvolvimento em prática. Já esse ano teremos o encontro no G20, em 2025 será a vez da COP30 e, em 2026, será a vez da Copa do Mundo da FIFA de Futebol Feminino. São eventos podem e precisam ser explorados para colocar o Brasil entre os principais roteiros turísticos do mundo.
O sucesso ou o fracasso de tal empreitada só depende de nós.
Abdon C. Marinho é advogado.